sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rosangela Gomes-Vereadora e presidente do PRB Jovem

Foto: Arquivo pessoal

A presidente do PRB Jovem, vereadora Rosangela Gomes, em entrevista exclusiva para o site do PRB Nacional, antecipa que a meta da militância é constituir os diretórios estaduais e “marcar posição” a respeito da “definição de políticas públicas de juventude nos cenários municipal, estadual e federal”.


Sobre as cotas raciais para o acesso à universidade pública, Rosangela Gomes disse que o assunto requer maior atenção do Estado e que é preciso discutir “não só em palanques políticos”, mas garantir a “sua aplicabilidade”.


A presidente do PRB Jovem comentou ainda que o jovem brasileiro pouco se interessa por política e precisa de incentivo para participar ativamente das discussões. “Estamos em um momento “embrionário” (...), acredito que daqui a um tempo teremos jovens mais participativos”, afirma.


PRB– Muitos jovens, logo cedo, precisam trabalhar fora para ajudar no sustento de casa ou se tornam pais antes da hora, o que acaba atropelando os sonhos, a educação e a própria juventude ao se verem obrigados a encarar a realidade do mundo. O que falta para mudar isso?


Rosangela Gomes – Uma conscientização. Hoje é grande a quantidade de jovens nos semáforos lavando vidro de carros, pedindo esmola. Na maioria das vezes, os pais estão na calçada ao lado com mais cinco filhos, explorando-os. Muitos também são omissos na educação e acabam jogando a responsabilidade para o professor. Há também a questão de, por fatalidade, muitas famílias serem constituídas sem nenhum tipo de planejamento. Com isso, a mãe tem que trabalhar e acaba deixando o filho em casa, sozinho, ou quando a criança volta da escola passa o restante do dia na rua recebendo todo tipo de informação negativa, prejudicando sua formação. Há também a questão das jovens que ficam grávidas precocemente, interrompendo uma fase da sua adolescência, da sua juventude. Na idade entre dez e vinte anos, quando deveriam estar formando o conceito de família, de vida profissional, tendo esclarecimento sobre o futuro, são pegas de surpresa, sem nenhum tipo de projeto, de entendimento. Passam a ser mães sem condições e, como sabemos, em muitos casos acabam abandonando o filho o que, consequentemente, acarreta uma série de problemas.


PRB – Muito se fala que os jovens brasileiros precisam de oportunidades para mostrar o seu potencial. O que a senhora considera importante para que isso aconteça?


RG – Essa questão está extremamente ligada à questão orçamentária e à questão de recursos que são destinados para políticas sociais. Nós tivemos, e temos tido, várias notícias que relatam a preocupação com a perspectiva dos jovens em nosso País. Recentemente, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) realizou uma pesquisa, informando que até 2012 cerca de 33 mil jovens serão assassinados. Por outro lado, foi publicada uma reportagem sobre um jovem líder de uma favela no Rio de Janeiro, que foi condenado a oito anos de prisão, mas foi solto esta semana por ter cumprido 1/3 da pena e por bom comportamento. Pergunto: O que nós, como Estado, estamos fazendo para que nossos jovens não sejam pegos de surpresa pelas dificuldades da vida e sejam condenados a passar o resto de suas vidas em um sistema prisional? Por outro lado, há outra condenação de que até 2012 uma parte da população jovem será assassinada. É um grande conflito. Volto a dizer: quais sãos os programas sociais que o Estado tem investido para que não deixemos os nossos jovens serem presos ou assassinados? Temos que estudar, analisar e implementar políticas de juventude para que possamos assegurar que esses jovens passem 80% do seu dia envolvidos com atividades de estudo, estágio e trabalho.Não adianta condenarmos esse jovem que foi solto, porque qual foi a oportunidade que o Estado deu a ele para que não seguisse esse caminho? Então, o papel da educação é essencial em nosso País. Não existe possibilidade de se garantir que o jovem tenha perspectiva de vida se não tiver educação, qualificação de mão-de-obra. É dever do Estado promover programas como o Jovem Aprendiz, que dá a garantia de se fazer um estágio com a possibilidade de cursar uma universidade e sair do universo do desemprego.


PRB – O Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado recentemente em Comissão Especial da Câmara dos Deputados e não contempla as cotas raciais para a educação. Como o PRB Jovem vem discutindo esse ponto, já que grande parte dos candidatos é jovem e recém-saída do ensino médio?


RG – O PRB, como os demais partidos, já percebeu que essa questão de cotas, seja social ou racial, é inerente à ausência do Estado. É ele que tem essa responsabilidade de garantir cidadania a todos os brasileiros e faz isso com muita ineficiência. Todas as nossas crianças deveriam ter assegurado o direito ao ensino de qualidade. No ano passado, li uma matéria sobre as crianças no Estado de Alagoas que dividiam uma sala de aula, ou seja, metade estudava num dia e a outra no outro dia. Que tipo de segurança de uma boa qualidade de ensino essas crianças terão? Tem um outro agravante: existem aquelas que não conseguem fazer suas inscrições na rede de ensino! De acordo com pesquisa do Ipea, há mais de um milhão de jovens analfabetos no Brasil. Detalhe: destes, 900 mil são de origem afro-descendente. Então, o Brasil precisa discutir essa questão de desigualdade com mais seriedade e não só em palanques políticos para fazer movimento, mas na questão de gestão que não está sendo assegurada a sua aplicabilidade.


PRB – É comum vermos jovens protestando contra alguma situação específica da política brasileira. A senhora considera que são jovens politizados, conscientes ou não?


RG – Eu acredito que hoje são poucos os jovens que se interessam em discutir políticas em nosso País. Veja que nas décadas de 50 e 80 tivemos grandes líderes políticos formatados do movimento estudantil ou do movimento de participação política nos seus respectivos partidos. Ressalto a importância de Ernesto Che Guevara, que conseguiu formar um exército de jovens em meio à selva; conseguiu passar o espírito de liderança, de democracia, de conquista, de perspectiva de liberdade, de um país democrático. Construiu isso sem nenhuma estrutura de vida e com responsabilidade à educação. Ele só recrutava em seu exército aquele jovem que tivesse compromisso com o estudo. No seu entendimento, que é uma grande realidade, o governo que não garante à população o direito à educação, é porque no futuro quer enganar esse povo. Então, é fundamental que os jovens participem de políticas públicas e discutam todos os seus direitos e deveres como cidadãos de bem.


PRB – Que nota a senhora daria aos jovens brasileiros em relação ao interesse pela política?


RG – É difícil dar uma nota por toda uma questão de cultura, de responsabilidade dos nossos antepassados, dos nossos governos, falta de incentivo, etc. Entretanto, a gestão do presidente Lula trouxe vida de novo à questão da juventude, criando a Secretaria Nacional da Juventude, o Conselho Nacional da Juventude, vários programas que contemplam a necessidade dos jovens, enfim, uma série de programas que os fazem voltar a sonhar com o direito de ter, de novo, perspectiva de vida. Estamos em um momento “embrionário”, mas se tiver continuidade no cenário federal, acredito que daqui a um tempo teremos jovens mais participativos.


PRB – Quais as expectativas do PRB Jovem para as eleições de 2010?


RG – Uma militância aguerrida, forte, definida. Tivemos no Rio de Janeiro o Primeiro Encontro Estadual do PRB Jovem e assumimos o compromisso de promover grandes debates para que a nossa juventude possa ter acessibilidade às questões inerentes ao Estado. Estou apostando nisso para, desta forma, despertarmos o desejo da militância de participar de forma mais concentrada. Aí sim, em 2010, marcarmos uma posição bem forte na questão da decisão do grande movimento cível.


PRB – O PRB Jovem está trabalhando em algum projeto no momento? Para quando seria?


RG – O PRB Jovem, hoje, tem a meta de dar posse a todos os diretórios estaduais, em seguida aos diretórios municipais e fazer uma política combinada com os Conselhos de Juventude dos respectivos locais, para que a gente esteja inserido no processo de discussão da legislação, da normatização e, assim, efetivamente marcar posição no que tange à definição de políticas públicas de juventude nos cenários municipal, estadual e federal. É esse, no momento, o nosso pontapé inicial.


* Entrevista publicada no site http://www.prb10.org.br/ com apoio do jornalista Jorge O´Hara